segunda-feira, 23 de abril de 2007

23 de Abril, Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor - (alguns meus) excertos de L’Arrache-Coeur

_





«Eu, aliás, não sou uma pessoa interessante. Sou uma pessoa interessada. O que é diferente.»


«Só se é livre quando se deixa de desejar o que quer que seja, e um ser totalmente livre não deveria desejar nada. Por eu não desejar nada é que concluo que sou livre.»



«Saber que existem paixões e não as sentir, é horroroso.»


(diálogos de Ângelo e Jaimemorto, o psiquiatra de barba ruiva)


_
_

_

>>Sobre o livro O Arranca-Corações compilado da Internet:


O realismo surreal - e o absurdo tornado natural...

Quem não conhece Boris Vian, e se aventura nos meandros deste romance, poder-se-á eventualmente chocar com situações que vão contra tudo o que está habituado. Além disso, as inúmeras e singulares peripécias vividas por cada personagem, criam uma espécie de singularidade e ambiguidade que nos transportam para um quotidiano de confrontos.

A história desmultiplica-se em binómios narrativos, que se vão de certa forma desenrolando separadamente mas com pontos de convergência. A relação entre a mãe e os seus 3 filhos gémeos (obsessiva, mas revestida de um carinho e ternura indescritíveis), a vivência de Jaimemorto (um forasteiro que acaba por se render à aldeia de tão estranhos habitantes), a Glóira (um barqueiro que navega num rio de vergonha e porcaria a troco de ouro, que ele próprio não pode usar por ter uma profissão tão vergonhosa), os binómios padre / religião e religião / pessoas, a maneira singular de como os indivíduos mais frágeis são tratados (os velhos são leiloados e tidos como autênticas bestas, enquanto que as crianças são verdadeiros escravos), a própria maneira como os animais são vistos (são atribuídas aos porcos, cavalos e outros propriedades quase humanas).

É destas pinceladas que Boris Vian consegue dar cor a um livro e a personagens que marcam e não deixam de causar impacto a qualquer leitor. Uma obra que obriga a reflectir e a ponderar sobre alguns "dogmas" e normas que inconscientemente temos presentes no dia-a-dia, mas que de certa forma são como finos telhados de vidro. Deve ser lido e relido, mas acima de tudo absorvido.


Arranca Emoções - Narrativa invulgarmente brilhante.

Um romance brilhante. Claro que quando peguei neste livro já estava familiarizado com Boris Vian, e assim sendo nunca me passou pela cabeça que este fosse um livro romântico. "O Arranca Corações" nada tem a ver com romantismo e o título pouco tem a ver com a realidade da narrativa - algo de muito normal em Vian (ler próxima critica de "O Outono em Pequim").

A história é simples e não posso dar muitas indicações, pois corro o risco de denunciar o grande interesse do livro.

A sentir:

- Moralidade. Ensinamentos a reter para uma vida futura. A vida só tem graça quando dobramos a esquina errada.

- Alma. Estar bem consigo próprio é o primeiro caminho para uma vida espiritualmente rica. As certezas ficam para depois.

- Justiça. Baralhar e voltar a dar. Reencontrar uma noção perdida dentro de si é o primeiro passo para uma vida socialmente equilibrada.

- Preconceito. Através da inversão de valores chegamos facilmente à conclusão do que devemos ser para com o nosso parceiro social.

Ataque tudo o que sabe. Limpe. Resuma com uma vida interior mais rica.

Este livro é uma série de murros nos estômago intercalados com pausas de riso sádico.

Divirta-se e apreenda algo...


_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
_
>>Sobre Boris Vian compilado da Internet:

Boris Vian é um daqueles escritores que marcou profundamente uma geração e que hoje corre o risco de passar por ilustre desconhecido nas gerações mais novas.
As suas descrições macabras e a criação de um universo absurdo fizeram com que se tornasse num dos mais destacados autores do século XX, influenciando muitos outros escritores, tal como o português José Luís Peixoto.
Mas a sua influência não se reflecte apenas no domínio da literatura, alargando-se especialmente para o domínio da música, com especial ênfase no jazz, sendo que ele próprio foi trompetista.
Filho de uma família abastada, Boris Vian acabaria por se tornar num dos ícones da cultura "underground" e de cariz urbano que percorreu todo o mundo ocidental nos anos 50 e 60 e que viria a atravessar o nosso país nos fins dos anos 70 e grande parte dos anos 80.
Boris Vian: um escritor que esperemos que não se venha a tornar apenas em mais um ilustre desconhecido.


A melhor versão do nascimento do Escritor é registada pelo seu próprio punho: "Nasci por acaso a 10 de Março de 1920, à porta de uma maternidade fechada por uma greve com ocupação. Grávida das obras de Paul Claudel (desde aí que não o gramo), a minha mãe que já ia no 13º mês não podia esperar mais pela Concordata.[...] Em força e juízo cresci, mas sempre feio apesar de enfeitado com um sistema piloso descontínuo, embora muito farto.[...] De repente, porém, a minha fisionomia transformou-se e comecei a parecer-me com o Boris Vian. Daí o meu nome."
Boris Vian nasce numa cidade nos arredores de Paris em 1920. Confinado a ficar em casa devido a uma saúde débil, o rapaz aprende a ler e a escrever muito cedo. Aos 12 anos trava a primeira batalha com os problemas cardíacos, mas assim que consegue estudar fora de casa torna-se um aluno brilhante - aos 15 anos já tinha o Bacharelato.A literatura sempre tinha sido uma das suas paixões, mas aos 16 anos descobre o jazz. Não perde tempo e no ano seguinte já toca trompete.
Apaixonado pelo Jazz e pela cultura Norte-Americana (apesar de nunca ter colocado um pé no continente), Boris Vian apresenta-se, em 1946, como tradutor das obras policiais do pretenso escritor Norte-Americano Vernon Sullivan (que não passava de um dos seus vários pseudónimos), obtendo um extraordinário sucesso. Estes seus provocatórios "romances negros", nos quais se inclui o titulo "Irei cuspir-vos nos túmulos", surgem carregados de violência, erotismo e humor sardónico, num estilo pleno de trocadilhos, jogos de palavras e inovações linguistícas, que pronuncia os movimentos de contracultura dos anos sessenta. Desencadeou uma sucessão de escândalos, da descoberta da verdadeira identidade do autor à proibição do livro em França, passando por um processo, em tribunal, por ultraje aos bons costumes.
Enquanto isso, as suas obras mais pessoais, assinadas com o seu próprio nome, eram relegadas para segundo plano , por serem demasiado estranhas para a época , aliás como o próprio Vian o foi.Boris Vian morre a 23 de Junho de 1959, de ataque cardíaco, quando assiste a uma projecção privada do filme "Irei cuspir-vos nos túmulos", adaptação cinematográfica do seu romance.
Bruscamente falecido com a idade de 39 anos, Boris Vian teve tempo para ser, em simultâneo, engenheiro, inventor, músico e crítico de Jazz, poeta, romancista, autor dramático, tradutor, cronista, intérprete das suas próprias canções e actor.
Entre as suas obras mais conhecidas podem referir-se os romances "A Espuma dos Dias" e "O Outono em Pequim", ambos publicados em 1947 e "O Arranca corações", publicado em 1953.


_
_

1 comentário:

Ana, la Gloire disse...

Um convite a um espectáculo que pretende reunir o que há de mais autêntico no Boris Vian.

http://paginas.fe.up.pt/~engenhar/