sexta-feira, 30 de março de 2007

Final de curso / Repertório :: Miguel M.

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Das Theater ist die schönste der Künste. In der Mitte steht es von Kunst und Leben(*)

O teatro é a mais bela das artes, porque está a meio caminho entre a Arte e a Vida. Ou talvez o teatro não seja sequer Arte, porque não é senão Vida.

Eu represento. Eu finjo. Todos nós fingimos. Todos fingem ser quem o outro espera que sejamos. Todos adequam as palavras, o estilo, os maneirismos ao público que assiste. Todos somos eu e o outro, todos representamos – não o nosso papel, mas o dos outros. Todos somos actores, mesmo quando não somos artistas. A nossa arte é enfrentar os dias – e ser.

Quem de vós poderá dizer que é sempre ver-da-dei-ro, coerente, puro (ou impuro, tanto faz)?

Sim, tu, claro que não finges.
Nem tu, pois, sim.
E ela. E ele. Sim, vocês não fingem.

Eu finjo. Tu finges, ele finge, nós fingimos, fingir, fingir, fugir. Eu sou o actor que sai de cena, aquele que se senta entre a audiência. Porque estou cansado do papel que me coube. Prefiro ver-me em cada um de vós e viver duma só vez os papéis de todos. Porque eu já fui tu e tu e ele. E vocês os dois. E ela.

Eu fui vocês em mim próprio. E o sentido do que tenho para vos dizer – busco-o no que cada um de vós tem para me dizer. Talvez não tenham nada para me dizer, porque talvez o vosso papel seja fazer com que não haja sentido nenhum.

Acontece devagar, paulatinamente, até que um dia acordas com medo de viver.

(*) Tadeusz Kantor


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Quando eu era criança

Quando eu era criança, ia com a minha avó velha fazer visitas às velhas amigas dela. Depois do chá, mandavam-me sempre brincar. O chá sabia a velhas e a roupa dos irmãos mais velhos e lembrava-me o futuro e o futuro que a minha avó velha e as velhas amigas dela gostariam de ter – mas não tinham.

E, no jardim, enquanto chupava azedas e lambia as mangas da camisa para tirar o sabor do chá, tentava imaginar uma forma de ir – de ir para muito longe – branco, branco, mais branco ainda – longe dali do jardim das velhas, todos iguais estes jardins: roseiras, um pouco de relva, às vezes um gnomo de barro com a ponta do barrete vermelho gasta pelo tempo, um canteiro vazio à espera de forças para plantar qualquer coisa que dê frutos.

E jogavam canasta com as memórias e bebiam o chá que ficava na língua como um pêlo de gato.

Porra, quem me dera ser criança!
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2 comentários:

Catarina disse...

gosto infinitamente destes 2 =)

Anónimo disse...

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